Por acaso? (ou... almoçando com minha cachola)
Você sai de sua casa. Pensa bem: você sai de sua casa para ir trabalhar, por exemplo. Caminha até a parada de ônibus, pega o ônibus, desce, caminha até onde tem de ir etc etc etc. Ou vai ao centro da cidade, na hora do rush. E vai almoçar num restaurante cheio ou faz um lanche na praça de alimentação atordoante de um shopping. Pensa bem. Por quantas pessoas você passa? E dessas, para quantas pessoas você olha? De quantas pessoas você ouve a voz, uma conversa, uma frase solta? Por que você ouve essas e não outras?
Será que isso ocorre por acaso simplesmente? Às vezes, estou caminhando na rua e, por aparente reflexo, sem motivo algum, sem que eu pense que vou fazer isso, me viro e olho pra trás, por exemplo. Vejo uma pessoa. O que me fez virar para trás?
É muita falta do que fazer eu pensar essas coisas neh?
Eu estava no restaurante e, ao meu lado, uma mulher em outra mesa. Chega um cara para almoçar com ela e eles começam a conversar. Estou almoçando, entende? Escolhi aquela mesa em que estou quando poderia ter escolhido qualquer outra, mas ao acaso OU NÃO sentei ali e vou ouvir a conversa deles. Inteira. Por quê?
Sobre o que falavam? Bem, ela era a dona do restaurante. Da franquia. Contava a ele por que tinham reformado tudo. O negócio não estava evoluindo e, conforme pesquisa encomendada, havia um primeiro e fundamental problema a solucionar. O restaurante esse, bastante conhecido na cidade, tinha nascido para ser uma opção de alimentação saudável quando isso começou a ser tendência. Com o passar do anos, para reagir ao entorno, aos concorrentes, passou a incorporar outros serviços e cardápio que o afastaram de sua origem. A pesquisa também identificou que, embora as pessoas precisem almoçar rapidamente (naquela região onde o restaurante está), elas gostariam de poder fazer isso em paz. Outro ponto da pesquisa é que as pessoas querem comida saudável mas não querem porções pequenas nem falta de sabor.
Daí que eu fiquei pensando por que passei a almoçar ali. Antes, minha impressão era: sim, a marca sugere uma opção de alimentação saudável, mas na prática, ali no balcão e no cardápio, isso não me convencia. Notei a reforma, esperei a reinauguração curiosa, e agora me sinto muito bem ali.
A gente se sente bem quando se relaciona com coisas, lugares, pessoas que são/agem claramente o que dizem ser/como prometem agir. Coerência conforta, dá segurança.
Também pensei: como é fácil a gente se afastar de nossa intenção inicial, de nossa natureza mais singular quando somos levados pela ânsia da aceitação dos outros a qualquer preço.
Bom, esses pensamentos me acompanharam durante o almoço. Que estava bem gostoso, por sinal. E saudável. Em todos os sentidos, eu acho.
É que minha cachola almoçou junto com meu corpo. Hehehe